terça-feira, 15 de novembro de 2011

Ballet Staguim e o Maranhão

A História da Dança no estado Maranhão é escrita como o antes e o depois de Reynaldo Faray, porém ela pode ser reescrita incluindo os nomes de Regina Telles e do Ballet Staguim  de São Paulo como dois íncones que contribuiram, na década de 1970, para um novo pensar sobre o corpo e a forma de se expressar em dança. 
Bailarina de formação clássica Regina Telles, no ínicio da década de 1970, funda e cria nas dependências do Ginásio Costa Rodrigues o grupo Chamató com o objetivo de  pesquizar danças populares. Por esse período as danças, festas e folguedos realizadas pela população pobre eram vistas como "coisa de pretos" e muitas das vezes lascivas e como "bocas de confusão", portanto proíbidas de serem apresentadas nas áreas que ia da Praça Deodora à Praia Grande. Nas escolas durante as Festas Juninas dançava-se quadrilha ou coco, não se falava em bumba-meu-boi ou tambor de crioula. Mais isso são outros quatrocentos, pois o interesse é falar da contribuição do Ballet Stagium para a dança do estado, e sobre Regina Telles falaremos em outra ocasião.
Fundado em 1971, por Décio Otero e Márika Gidali o Ballet Staguim tornou-se um divisor de águas da história da dança nacional do século 20, segundo a crítica e historiadora de dança Helena Katz.
 O Ballet Stagium revolucionou meio mundo de gente com sua estética de dançar brasileira e pelas andanças pelo país, dançando em palcos italianos, arenas, ruas, caminhões, balsas e no Xingu.
Todos os anos aportava na nossa cidade, apresentando composições do repertório, coreografias novas, cuja estética sempre acrescentava algo novo quanto a concepção do desenho coreográfico, da iluminação, da cenografia, do figurino, da pesquisa temática, gestual e de movimentos. 
Com a filosofia de divulgar e popularizar a dança no país a companhia antes das apresentações, realizava aquecimento, exercícios e treinamento corporal diante do público, que passava a ter uma dimensão do fazer do bailarino antes de entrar em cena.  Minutos depois o público ávido pelas perfomances do grupo esperava ansiosamente o teatro ser preenchido pela sonoplastia do número a ser apresentado e a entrada dos bailarinos gradativamente ou em grupo conforme o desenho coreográfico proposto por Décio Otero e/ou coreografo convidado.
 Cada récita do Staguim, no palco do Teatro Arthur Azevedo era esperada como o "maná que cai do céu". Como esquecer o rebolico e  "OH!" e "AAH" da platéia durante a apresentação de Danças da Cabeça e de Holoucausto; da falta de ar em Kuarup e Heleno de Freitas; da alegria, do alívio e da satisfação com Missa dos Quilombos, Valsas e Seresta, Elis... 
 A estética stagiana reoxigenou a cabeça, o corpo e a mente não só do público leigo que lotava o teatro para assistir as coroegrafias do Ballet Stagium, mas dos coreografos e bailarinos e diretores de grupos de teatro que passaram a repensar suas estéticas.
 Passa a surgir novos grupos de dança com propostas na linha da dança moderna e contemporânea, pesquisando linguagem corporal e temática que tenham a ver com o homem maranhense.
 Reynaldo Faray cria e monta Maré Memória, Nordestinados, Maria do Portinho, espetáculo de dança com tema e causas bem maranhense e de São Luís.
 Regina Telles na extinta Escola Técnica Federal do Maranhão, hoje IFMA, realiza pesquisa corporais permeadas com dança populares maranhenses com alunos da escola, paralelo ao trabalho que vem desenvolvento junto ao grupo Laborarte, com o departamento de dança . Posteriormente junto com Lobato, José Inácio e Rosa Almeida criam o Grupo Corpo Chama, que vem a ser o núcleo de fundação da Associação Maranhense de Dança na década de 1980.
 As sementes plantas em Upaon-Açu, faz germinar uma série de grupos de dança na linguagem da dança moderna e contemporânea. A Fundação Cultural do Maranhão promover cursos e oficinas de dança com mestres como o alemão Rolf Gelewski (Dança Moderna - Mary Wigman), o norte-americano Clayde Morgan (Afro), a paulista Jutilde Medeiros (Dança Moderna - Martha Graham), entre outros, na época era Regina Telles chefe do Departamento de Dança da Fundação Cultural. 
 Na metade dos anos 1980, voltam para São Luís as maranhenses Julia Emília (Dança Moderna) e Míriam Marques (Ballet Clássico) que vão dar um novo impulso ao jeito de se fazer dança no Estado. Ambas montam suas Academias e seus grupos coreográficos.
 As bailarinas Olinda Saul, Solange Costa, Clara Pinto, entre outras, oriundas do Ballet Reynaldo Faray, criam suas academias de ballet por todo o estado. A cidade passa a respirar outros ares de dança.
Regina Telles monta a sua academia que vai apresentar coreografias com estética totalmente maranhense.
 O Ballet Staguim nestes 40 anos de história portanto cumpriu com sua filosofia de divulgar, popularizar e conceituar a dança com o gestual brasileiro.
Em outros rinções deste Brasil conseguiu consolidar a profissionalização do bailarino, coisa que não conseguimos nesta ilha do amor.
 Este é apenas um dos capitulos do muito que se tem a escrever sobre a dança neste estado.
Não podemos deixar de registrar, as aulas ministradas para bailarinos locais, durante a sua permanencia na cidade onde estavam se apresentando.  
Décio Otero e Márika Gidali com seus faros para descobrir talentos, sempre durante a tourné pelo país descobria um ou dois telentos pelas cidades onde passavam e os selecionavam para estudar na academia do grupo e fazer parte do seu elenco oficial como bailarino. 
Nestas terras da cultura brasileira descobriram Edson Mondego, Olinda Saul, Anete Leite e Hélio Martins.